domingo, 2 de setembro de 2012

Vamos falar de Auto-estradas?

As Auto-estradas são as artérias do País.
  
São as vias – em paralelo com os caminhos-de-ferro – pelas quais circula o «sangue» de toda a nossa economia

Numa época de crise como aquela que atravessamos, muito mais que em tempo de «vacas gordas», há que saber gerir os dinheiros públicos numa óptica rigorosa da relação custo/benefício.

Temos assistido nos anos mais chegados (agora felizmente suspensas pela crise) ao lançamento de obras faraónicas de rentabilidade duvidosa e que não vão ao encontro das necessidades das populações e do País.


Tendo este pressuposto em consideração, permitimo-nos delinear alguns comentários sobre algumas obras e circunstâncias acessórias.


1. SCUTS

Convém recuarmos alguns anos no tempo para nos recordarmos como nasceram algumas das SCUTS do Norte que recentemente foram portajadas.
As actuais A28, A44 e A29 nasceram como IC1 (a designação ainda figura na 97ª edição do Mapa das Estradas do ACP para 2010/2011, a última distribuída).

A actual A41 nasceu como IC24 (idem, idem).

Se há necessidade de portagens, e aqui se faz a mais tenaz apologia do princípio generalizado do utilizador/pagador, (a maioria esmagadora da nossa população não tem automóvel e não tem que pagar as comodidades de que não usufrui), entende-se que o mesmo princípio deveria ser aplicado aos IC da zona da capital (que é apenas a mais rica do país).

À luz desse princípio, defende-se portanto a conversão em auto-estradas portajadas dos seguintes itinerários todos com características de auto-estrada:
  • Eixo norte-sul (todo) 
  • A1 (entre Lisboa e Alverca)
  • A2 (entre Lisboa e Coina)
  • A5 (entre Lisboa e Porto Salvo/Oeiras)
  • A8 entre (Lisboa e Loures)
  • A23 (toda)
  • IC2 (todo, entre Lisboa e Póvoa de Santa Iria)
  • IC2 (todo, entre Almada e a Costa de Caparica)
  • IC19 (todo, entre Lisboa e Sintra)
  • IC21 (todo, entre Coina e o Barreiro)
  • IC32 (todo, entre a A2 (Coina) e Alcochete)
Todos eles são da região da Grande Lisboa, num total de mais de 1000 km, QUE NÃO PAGAM QUALQUER PORTAGEM NEM ESTÁ PREVISTO QUE VENHAM A PAGAR. O seu movimento é muito mais significativo do que os do Grande Porto e, portanto, susceptível de gerar muito maior rentabilidade financeira (não se inclui na lista o IC17-CRIL porque no Porto também existe o seu equivalente, o IC23-VCI, também não portajado).

É um caso da mais elementar justiça que, certamente, cairia muito bem junto da esmagadora maioria do restante eleitorado. Sobretudo se essas receitas, afinal obtidas nas classes menos necessitadas da população, pudessem ser acompanhadas de uma redução de um qualquer imposto que beneficiasse a generalidade dos portugueses, sobretudo os mais desfavorecidos. Por exemplo, a reposição do 13º mês. Até porque o rendimento per capita da Grande Lisboa é muitíssimo superior ao do resto do País, sobretudo do Norte.

Mas em nenhum caso, nem no Norte nem no Sul, se deixariam de aplicar portagens nem seriam concedidas medidas de excepção (salvo forças de segurança, ambulâncias e bombeiros). Nem sequer aos utilizadores de viaturas oficiais que pagariam as portagens do seu próprio bolso! Ganham bem para isso... e para pagarem as multas das tolices que fizerem. Que o diga o Dr. Mário Soares...

(A questão dos turistas estrangeiros tem uma solução muito simples: não pagarem nas SCUTS. Afinal, se eles vêm cá gastar o seu dinheiro, não devemos bloqueá-los na fronteira, não é?)

Claro que dá para imaginar as razões pelas quais os nossos «queridos» governantes não se importam de fazer esta discriminação: a população do Norte está muito longe para lhes «fazer uma espera» à porta dos ministérios, da Assembleia da República ou mesmo de um teatro. À rapaziada de Lisboa, muito mais à mão, era capaz de lhe chegar a mostarda ao nariz e fazer das suas. Até porque, por lá, a criminalidade é significativamente maior.

E assim se compreende que o Governo tenha adquirido tantos blindados PANDUR. Sempre podem servir de transporte de emergência se as coisas começarem, a aquecer. Afinal foi numa Chaimite que Marcelo Caetano saiu do Quartel do Carmo...


2. A «Degola dos Inocentes»

É confrangedora a maneira como os governantes de então negociaram as famigeradas PPP (Parcerias Público-Privadas) das quais as SCUT são apenas uma parte.

A não existir dolo (e seria mais do que conveniente que a PGR fizesse dos casos uma investigação exaustiva) o resultado das negociações só pode ser fruto de ingenuidade, ignorância ou simples estupidez. Que custam a todos nós incontáveis milhões em impostos que poderiam ser muito melhor utilizados para outros fins.

Porque os grandes grupos empresariais sabem fazer os trabalhos de casa e só confiam as negociações importantes a técnicos com anos e anos de prática a todos os níveis. E que comem ministros ao pequeno-almoço...

É mais do que evidente que os nossos governantes nunca ouviram sequer falar na Lei de Murphy:

Se alguma coisa pode correr mal, ela corre mal!

Mais cedo ou mais tarde, é fatal como o destino...

E agora é todo o Povo Português, iludido por aquilo em que o fizeram acreditar, que está a pagar com o seu sangue, o seu suor e as suas lágrimas os desvarios de quem assumiu irresponsavelmente as rédeas do destino de todos nós. E que se refugia (vá-se saber com que dinheiro) em exílios dourados porque pode ser pouco saudável ficar por cá...


3. O Túnel do Marão

Este é o nó górdio da A4. Parado há um ano (pela terceira vez e a 20% da conclusão) devido a desacordo entre o Estado e a concessionária. E na raiz do problema estão as duas suspensões anteriores devidas a providências cautelares interpostas pelas Águas do Marão por «receio de quebra do manancial».

Deixemo-nos de desculpas, as Águas do Marão pertencem ao concessionário da Pousada do Marão (Pousada de São Gonçalo), ponto «obrigatório» de paragem no percurso para Trás-os-Montes e que ficaria às moscas com a abertura do túnel já que quase todo o trânsito deixaria de lhe passar à porta.

Se, neste país, quem interpusesse uma providência cautelar fosse financeiramente responsabilizado pelos prejuízos daí decorrentes no caso de se vir a verificar a sua improcedência, certamente teríamos muito menos casos destes e o Túnel do Marão estaria concluído há anos... para benefício de todos nós e em especial dos transmontanos.


4. As vias que não levam a lado algum

Em tempos que já lá vão, havia um viaduto em Leça da Palmeira (agora junto à Exponor sobre a A28) que esteve anos a fio sem utilização nem ligações e que chegou a ser motivo de escárnio no jornal humorístico francês «Le Canard Enchainé».

Pois hoje em dia os nossos responsáveis das Obras Públicas parece desejarem honras semelhantes na imprensa internacional.

A título de exemplos, que não se acredita serem exaustivos temos:
  • O IC6 que deveria ligar Coimbra à Covilhã e que termina em nenhures antes de chegar a Oliveira do Hospital.
  • A nova ponte sobre o Douro em Entre-os-Rios, construída junto à velha ponte Hintze Ribeiro depois da catástrofe de Castelo de Paiva.
  • A Auto-estrada A32 que deveria ligar Gaia à A25 em Sever do Vouga e que acaba no meio do mato antes de Oliveira de Azemeis.
Compreende-se que na época de crise em que vivemos, haja obras que devam ser suspensas e reequacionadas. Mas tudo deve estar preparado para que, quando a crise se for (e oxalá esse alívio não venha longe), tudo possa ser reatado com a celeridade possível porque atrasos já temos quanto baste.

Por isso, senhores Ministros, Secretários de Estado, Directores-Gerais e toda a nobilíssima classe VIP deste país, vamos deixar-nos de incompetências, vamos fazer um Orçamento de Estado para 2013 e seguintes, sensato e baseado na metodologia OBZ (Orçamento de Base Zero) oportuna e correctamente proposta pelo Dr. Francisco Louçã (de quem não sou partidário) mas que é uma técnica comprovada há longos anos e que faz todo o sentido.
(http://www.agrconsultores.com.br/pt-br/processos/or%C3%A7amento-base-zero)

Enfim, um orçamento que, entre outros pontos:
  • elimine todos os gastos supérfluos;
  • suprima o maior número de «tachos» que seja possível;
  • acabe com subsídios que de nada servem e a quem nada produz; 
  • aliene toda (ou quase) a frota de carrões do Estado, das autarquias e das empresas públicas (recolocando os motoristas assim desocupados em lugares em que trabalhem e sejam úteis e em que não fiquem à conversa uns com os outros);
  • ponha a trabalhar a sério todos os parasitas que vivem à custa do nosso dinheiro;
  • incentive a criatividade dos nossos jovens licenciados na procura e concretização de soluções para o País.
E, com algum do dinheiro que pouparem, sirvam o País e ponham fim a esta anedota rodoviária...!!!

Pensem BEM nisso! Até amanhã!


P.S. Ah, e poupem na alimentação. Alguns de vós estão a ficar um tanto obesos e isso pode provocar AVCs e enfartes de miocárdio. E os Senhores fazem tanta falta...

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