quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Carta aberta ao Sr. Primeiro Ministro


Praticamente todo o ser humano

consegue suportar a adversidade.

Mas, se quisermos testar o seu carácter

é darmos-lhe poder

(Abraham Lincoln)

Imagem do blogue: http://cyberdemocracia.blogspot.pt
 
Senhor Doutor Pedro Passos Coelho:

Provavelmente, por esta hora, o senhor pensa que me move uma animosidade particular contra si, que eu sou um esquerdista do piorio, que não vejo nada de bom naquilo que está a fazer.

Desengane-se. Se é isso que pensa, comete um erro de palmatória pois, se tiver lido com um mínimo de atenção e de racionalidade aquilo que tenho escrito (pondo de lado uma certa dose de melindre juvenil que lhe reconheço), já terá notado que eu me insurjo sim, e fortemente, contra tudo o que representa prepotência, irresponsabilidade, negligência, imaturidade e nepotismo venham eles de onde vierem,

E o seu governo, em quem depositei grandes esperanças, tem manifestado tudo isso em doses pouco recomendáveis.

Assim sendo, e porque tenho ainda uns restos de esperança de que consiga levar o barco a bom porto, permito-me dar-lhe algumas «dicas» de que o senhor tem falta para liderar o povo que o elegeu.
  1. Por muito que isso lhe custe, livre-se de alguns ministros de imagem já degradada e que lhe custam simpatia e credibilidade por parte do eleitorado. Escuso de lhe dizer quais são, os escândalos andaram nos jornais e mantê-los a seu lado só dá a ideia de que também terá arcas encoiradas no seu armário.
    Nessa imagem degradada incluem-se ministros «muito engomadinhos», bem vestidos e bem falantes que se dirigem ao Povo Português como se fossem todos atrasados mentais e só eles tivessem o monopólio da verdade.


  • Aprenda a lidar com quem depende de si. Isto pode parecer por vezes difícil mas traduz-se num punhado de regras muito simples:

    Um chefe serve aqueles que dependem de si fornecendo-lhes aquilo de que eles necessitam para cumprir devidamente a sua missão:


  •  Instruções / ordens
     Informação
     Orientação
     Formação profissional
     Avaliação
     Disciplina
     Apoio e encorajamento
     Delegação de autoridade
     Equipamentos
     Materiais
     Meios humanos
     Matérias-primas


    E, sobretudo...
     
     O seu EXEMPLO

    Será que tem tido um bom relacionamento com o seu eleitorado e com os seus subordinados?

    E como é que um chefe detecta essas necessidades?
     
     Estando acessível,
     Escutando os seus “clientes”
     Observando,
     Vagueando pelo seu universo
     Procurando descobrir sinais de stress ou de apatia
     Fazendo perguntas (sobretudo perguntas abertas*)

    (*) Aquelas que não permitem uma resposta SIM/NÃO)
     
    • Honestamente, é isto que anda a fazer? 
    3. Aprenda a tomar decisões.
    Tenha bem presente que o difícil não é tomar decisões; 
    • A dificuldade está em levar as pessoas a aceitarem essas decisões e a fazerem com que resultem. 
       
  • E ANTES de tomar qualquer decisão, procure responder às perguntas seguintes: 
  • 1. Qual o tipo de decisão que tenho de tomar?
    2. Que decisões é que, consciente ou inconscientemente, devíamos tomar e NÃO estamos a fazê-lo?

    3. A que questão é que esta decisão vai dar resposta? (muito importante)
    4. Quantas alternativas realistas existem em resposta a esta questão?
    5. Esta decisão precisa mesmo de ser tomada?
    6. Se não fôr tomada, que consequências daí advirão?
    7. Que objectivo é que a questão pretende atingir?
    8. Que consequências resultarão desse objectivo não ser atingido?
    9. Qual a informação ideal que, se fosse conhecida, permitiria que a decisão fosse tomada com absoluta confiança?
    10. Até onde nos podemos aproximar dessa informação ideal
    11. O grau de imperfeição impossível de remover dessa informação é tão importante que ponha em causa as bases de uma decisão racional?
    12. Como é que a decisão irá ser posta em prática? Por quem? Como é que a sua execução irá ser acompanhada e controlada? Por que critérios?
    13. E o que é que pode correr mal?
    14. Se a Lei de Murphy se verificar, e se o que puder correr mal acabar mesmo por correr mal, qual será a reacção?
    15. E o que é que pode correr bem demais?
    16. Se os resultados da decisão se revelarem de acordo com o planeado, que decisões é que temos de tomar a seguir, e quando?
     
  • Releia os textos deste blogue. Nele encontrará muitas críticas (sempre construtivas embora por vezes possam não o parecer) no sentido de melhorar alguns pontos sombrios na sua actuação e sugestões ponderadas de quem anda na rua em contacto com as pessoas e que não procura ver o mundo por detrás de uma secretária nem através de olhos que lhe dizem aquilo que PENSAM que o senhor quer ouvir.


  • Não se esqueça de que, quando o senhor sair do Governo, eles vão continuar. Como continuaram através dos governos que o precederam...

    E por hoje fico por aqui. Muito mais teria para lhe dizer mas não quero malbaratar o tempo de alguém tão ocupado... mas lembre-se de que, se está onde está, foi porque quis...

    E termino com uma quadra de António Aleixo:
             
     Contigo em contradição
     Pode estar um grande amigo.
     Guarda-te mais dos que estão
    Sempre de acordo contigo

    Pense nisto. Até amanhã!



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