quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O artigo de «Jacques Amaury»...

... ou a falta de carácter de não assumir ideias!



Ontem publicámos aqui, um artigo supostamente escrito por um professor da Universidade de Estrasburgo que, afinal se veio a revelar ser apócrifo.

E é pena porque se trata de um texto bem escrito e com valor. Infelizmente o seu autor não teve o pundonor de assumir as suas próprias ideias e escondeu-se por detrás de um personagem fictício (embora exista um Jacques Amaury, só que não é sociólogo nem professor da Universidade de Estrasburgo).

Assim sendo, e na ausência de uma autoria assumida do texto, vou assumi-lo como traduzindo as minhas ideias naquilo que as reflecte, limitando-me a tomar a liberdade legítima, de o modificar aqui e além de acordo com as minhas opiniões pessoais.

Sou também de opinião que Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história e que terá de o resolver com urgência, sob o perigo de virem a criar-se tensões cada vez mais intensas desaguando nas consequentes convulsões sociais.

Em primeiro lugar há que fazer o diagnóstico das causas. Devem-se em parte à má aplicação dos dinheiros emprestados (e doados) pela União Europeia para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união. Mas apenas em parte. Porque a classe política, mal preparada e oportunista, não tirou o partido que deveria ter tirado do maná que foi colocado à disposição do País.

Para além disso, em todo o aparelho do Estado assistiu-se ao assalto de cargos públicos, privilegiando-se o compadrio em lugar da competência, acabando por criar-se um monstro burocrático de incompetências alimentando-se de subornos para serem despachados os assuntos mais comezinhos.

Foi talvez o país onde a UE mais investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.

Os dinheiros foram encaminhados para auto-estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições publico-privadas, fundações e institutos de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para abaterem as embarcações. 

Também foram concedidos apoios a elementos (ou a próximos deles) dos principais partidos, e elevados vencimentos nas classes superiores da administração publica

Assistiu-se ao tácito desinteresse da Justiça frente à corrupção galopante e a um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança de impostos na riqueza, na Banca, nas mais-valias em Bolsa, nos grandes negócios. Pelo contrário, desenvolveu-se uma atenção particularmente obsessiva junto da classe média, pequenos comerciantes e populações menos favorecidas.

Ao mesmo tempo privilegiou-se uma «aristocracia proletária», despudorada e recalcitrante, que se não coíbe de fazer greves selvagens por reivindicações absurdas de que são triste exemplo as empresas públicas de transportes, os professores e os trabalhadores portuários.

As verbas astronómicas doadas para Formação Profissional foram malbaratadas em cursos sem qualidade, seja através do IEFP seja através de alguns Centros Protocolares que privilegiaram formadores «amigos». Não se acarinharam os formadores competentes e chegou-se ao despudor de fornecer manuais elaborados por formadores capazes e idóneos a amigalhaços sem se respeitarem os direitos de autor.

Mais grave, essas verbas da União Europeia foram e são desviadas para empresas formadoras privadas às quais se não fazem auditorias e que enriqueceram com o beneplácito de quadros do IEFP deixando prescrever a data de pagamento aos formadores e apropriando-se dos seus honorários.

Estabeleceu-se um regulamento de aptidão pedagógica de formadores absolutamente inconcebível (já aqui denunciado) que unicamente serve para assegurar trabalho contínuo a uma «clique» privilegiada de chamados «formadores de formadores»

Por outro lado, a política portuguesa é um lamaçal escorregadio onde só os mais hábeis e os mais ousados (mas não os mais competentes) penetram, já que os partidos, cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes. Ao abrigo do princípio de que funcionário público não pode ser despedido (a não ser em casos extremos), permite-se que eles permaneçam eternamente, transformando-se, como já se referiu, num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica,assessorada por sindicatos agressivos, tornou-se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.

Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) e o PSD (Partido Social Democrata), que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com alguns telhados de vidro e uma linguagem pública a exigir actualização.  À esquerda o PCP (Partido comunista) vilipendiado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais. Mais à esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o CDS, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo.

Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não consegue encontrar novos caminhos.

Contudo, na génese deste beco sem saída aparente está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono nesse aspecto fulcral e determinante do seu desenvolvimento, já que o Estado deixou degradar dramaticamente a qualidade e a disciplina do ensino oficial. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida, trabalhada e digerida, pelos órgãos de Comunicação Social. 

Aqui reside um dos grandes problemas do país; as Televisões, as Rádios e os Jornais, são, na sua grande maioria, pertença de grupos privados ligados à alta finança, à industria e comércio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.

É fácil de ver que com estes ingredientes, não é possível cozinhar uma alimentação saudável mas apenas os pratos que o “chefe” recomenda. Daí resulta a estagnação que tem sido geradora da crescente distanciação entre ricos e pobres e o empobrecimento das classes médias.

A RTP está dominada por elementos dos dois partidos principais, com predominância dos partidos no Governo. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. 

Não há um único meio de Comunicação Social ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, “non gratas”, pelo establishment. De facto, as pessoas que enviam as suas crónicas ou artigos para os grandes órgãos de comunicação onde poderiam dar luz a novas ideias e à realidade do país, vêem-nas sujeitas a uma discreta selecção que apenas deixa emergir os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.

Só uma comunicação isenta e independente poderia ajudar a população a fugir da banca (o cancro endémico de que padece), a exigir uma justiça mais rápida e justa, a insistir numas finanças honestas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.

Neste quadro, os únicos veículos informativos que gozam de independência são os inúmeros blogues que, através da internet tentam despertar do torpor uma população embrutecida e pouco culta. Infelizmente é um meio inacessível ao grande público já que exige equipamento informático e conhecimento de como o utilizar.

Bem, isto seria aquilo que este blogue escreveria como Jacques Amaury e do qual assumiria a paternidade.

Como apartidário que é, e apenas preocupado com os interesses de Portugal e da maioria da população portuguesa, ciente e adepto de que o mérito deve ser premiado e de que as riquezas devem ser um motor de desenvolvimento e de progresso na vida de cada um.

Mas frontalmente contra a corrupção, o oportunismo, o compadrio, o enriquecimento ilícito e o esmagamento dos menos favorecidos pelos que apenas vivem para a ganância sem escrúpulos mas que, cinicamente, vão ao domingo à missa dar umas esmolas escassas e bater no peito em falsa compunção. 

Pensem nisto. Até amanhã!


Sem comentários: