domingo, 30 de dezembro de 2012

Reveillons obscenos...


... num país em crise!


Não me preocupa o vozear dos maus, o que me preocupa é o silêncio dos homens bons.

Martin Luther King

Assisti ontem num telejornal de um canal aberto a uma panorâmica das ofertas para passagem de ano para bolsas escandalosamente recheadas.

E fiquei de boca aberta!

Propostas totalmente esgotadas para passagens de ano a 300, 500, 1000, 3000 Euros por pessoa! Por uma noite!

E algumas perguntas maldosas me vieram de imediato ao pensamento.


  • Como é possível haver tanta gente a espojar-se (a palavra é forte mas adequada) em luxos babilónicos quando há tanta gente que não tem dinheiro para dar de comer aos filhos?

  • Qual a moral de existirem tantas crianças que vão de manhã em jejum para a escola porque os pais não têm uns míseros cêntimos para lhes dar uma chávena de leite e um pão com qualquer coisa para lhes matar a fome?

  • Qual o objectivo do despudor de serem passadas tais imagens em canais abertos de TV a exibir a tantos desgraçados as opulências repugnantes, gozadas por aqueles que lhes esmagam as vidas, que lhes sugam até à última gota os seus míseros proventos e as sua magras pensões? (Se a intenção for para as pessoas se indignarem e reagirem, aí estou plenamente de acordo)

  • Onde anda a moralidade, a vergonha, a honra deste País que permite que tantos crápulas exibam a sua luxúria perante quem tem que recorrer à sopa dos pobres para não morrer à fome?

  • E quanto cobra de impostos o senhor Ministro das Finanças a essas exibições abjectas de riqueza, obtida sabe-se lá por que meios?

  • Será que o senhor Primeiro Ministro e os membros da sua troupe também se vão exibir nesse torpe carnaval de novo-riquismo?

Pobre Portugal que tão grande foste e que agora estás sujeito à voragem de um bando infindável de vampiros sem escrúpulos que não se coibem de pavonear o desprezo que sentem pela multidão dos que eles consideram escravos, apenas dignos de serem espezinhados debaixo dos seus tacões.

Tenham vergonha, vilões! Se querem ter bacanais, ao menos tenham a decência de as ter recatadamente para não ofender os sentimentos de quem se arrasta no lodaçal para onde os atiraram.

Pensem bem nisso. E gozem enquanto é tempo.

Lá diz o fado «Sabe-se lá» de Amália Rodrigues

«...
que os alcatruzes da nora,
...,
não andam sempre por cima»


Passem bem. Até amanhã!




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