terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Será mesmo o fim...





... das ligações aéreas regionais?


Todos sabemos que o nosso país é pequeno.  Mas será sensato torná-la ainda mais exíguo limitando-o à faixa das provincias litorais desde o Minho ao Algarve? Sobretudo sendo, como é no Norte e Centro, recortado por cadeias de montanhas.

O fim recente da última ligação regional que ainda sobrevivia (Lisboa-Bragança) vem lançar ainda mais dúvidas sobre a sensatez de quem se senta nos arredores do Terreiro do Paço e que tem uma visão míope (para não dizer vesga) das realidades do Portugal que se não vislumbra do topo da torre Vasco da Gama.

Trás-os-Montes não tem comboios para além dos poucos quilómetros do Metro de Mirandela. Depois que encerraram as linhas de via reduzida (como já aqui foi comentado) parece que já não é Portugal.

Fizeram-se auto-estradas mas o túnel do Marão (peça chave da A4) continua inacabado.

E viajar de Chaves, Bragança ou Vila Real até Lisboa para tratar de negócios ou de afazeres oficiais é gastar dois ou mais dias de uma viagem que se poderia resolver em um dia de trabalho.

E o mesmo se poderia dizer da Guarda ou Covilhã, pois, muito embora a Beira Interior disponha de comboios Intercidades e auto-estradas, as deslocações à capital demoram horas infindas se quisermos respeitar (como é da mais elementar prudência) os limites de velocidade.

Nos tempos da TAP-Regional, na década de 70, salvo erro, todas aquelas cidades tinham ligações aéreas regulares a Lisboa com aviões de 5 ou de 9 lugares (Beechcraft Baron e DHC - Twin_Otter). Hoje estamos pior do que há 40 anos atrás.

Sabemos que estamos em crise e com os dinheiros contados. Mas há que ter sensatez naquilo que se anda a fazer e manter linhas aéreas regionais fica bem mais em conta do que construir auto-estradas... para não falar na loucura dos TGV. Veja-se o exemplo da Suíça, país muito menor que Portugal em extensão territorial (41.285 contra 92.090 Km2).

E ocorre perguntar:

A Suíça investe nestes meios de coesão territorial porque é rica ou é rica porque investe nestes meios de coesão territorial?

Pensem nisso. O interior profundo precisa de ser e de se sentir Portugal.

Até amanhã!


Fotografia: Aero Vip

P.S. Devido a um problema de software, hoje não é possível enviar a habitual divulgação por correio electrónico. Espera-se que esse problema seja ultrapassado nas próximas horas. Do facto se apresentam as mais sentidas desculpas. Muito obrigado pela vossa compreensão.


2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito de ler toda esta exposição. Têm razão. Deixaram chegar Portugal a este ponto, mas vamos mostrar que somos portugueses. O sol brilhará por esses lados também. Gostam mais de brigar à política do que de trabalhar a sério. Muito dinheiro se tem atirado ao vento. Mas com as mãos na massa é que se faz o pão. E tantos não as metem lá. Força. Obrigada. M.C.

Fernando Carvalho disse...

O caso de Vila Real e Bragança é paradigmático.
É que à interrupção (creio que definitiva...) da ligação aérea acresce a paragem das "obras de arte da novo troço da A4, nomeadamente a tunel do Marão.
Como foi noticiado, o empreiteiro desmontou o estaleiro recentemente, facto que indicia o pior.
A isto se chama "renegociar as PPPs": suspender obras importantes ou "poupar", retirando a manutenção de troços existentes do âmbito das PPs e entregando-a à Estradas de Portugal...

O troço do IP4 de acesso a Vila Real é um excelente "exemplo": obras de conclusão paradas há cerca de um ano e os pavimentos em crescente estado de degradação.
Há dias vi o inacreditável: um trabalhador a encher um desses buracos com umas paedras e deitando alcatrão com um ... regador!!!