quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

«Os Verdes» querem requalificar...

...as linhas do Douro e Tâmega!


O partido ecologista "Os Verdes" (PEV) quer que o Governo requalifique as linhas do Douro e do Tâmega por considerar que, num momento de crise económica e ambiental, o transporte ferroviário é estratégico.

Ler mais http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3004144


Embora surpreendente por vir de um Partido que, directa ou indirectamente, conduziu as nossas ferrovias ao calamitoso estado financeiro em que estão, fruto das greves, reivindicações e regalias de uma aristocracia operária sem um pingo de vergonha na cara, a verdade é que, neste ponto, pensamos que têm razão.

E as boas ideias devem ser aproveitadas, venham de onde vierem.

No entanto a proposta do PEV devia ter ido mais longe, propondo a revitalização das linhas do Corgo, do Tua (agora ameaçada pela barragem da EDP) e do Vale do Vouga.

E, já agora, a extensão à Trofa da linha C do Metro do Porto. Já que a linha férrea foi removida para a construção do Metro. Que nunca mais foi executada.

Estamos de acordo que a aniquilação de tantos quilómetros de linha de via reduzida foi, no mínimo, criminoso e oportunista, lançando as populações nos braços ávidos dos agiotas da camionagem que, livres da concorrência da CP, fizeram os preços disparar. Quem lucrou com esta dádiva? Ainda está por apurar a extensão das responsabilidades do poder político.

Bom, mas deixemos estas análises e vamos ao que interessa, ou seja, aos aspectos meritórios da proposta d'«Os Verdes».

Como é do conhecimento de muitos, as linhas férreas de via reduzida foram utilizadas em percursos difíceis, de montanha, de sinuosidades acentuadas e que, por consequência, atravessavam, na generalidade, paisagens de grande beleza. Não permitiam grandes velocidades, eram em muitos casos comboios do estilo «far-west», mas eram uma ternura. E eram de grande utilidade para as populações perdidas nesses ermos.

Em tempos que já lá vão, quando ainda era estudante, tive oportunidade de percorrer algumas dessas linhas (infelizmente não todas) e dessas viagens conservo agradáveis recordações. Das linhas acima citadas a única que não percorri foi a do Corgo (mas que minha esposa utilizou diversas vezes. Em compensação percorri a linha do Sabor algumas vezes em grande parte da sua extensão (desde o Pocinho até Urrós).

Pois bem, ao contrário de nós, que permitimos o assalto e devastação desse património ferroviário, aqui na vizinha Espanha e, particularmente no País Basco, não só conservaram essas relíquias mas também as aperfeiçoaram ao serviço das populações locais e, sobretudo, do Turismo!

E hoje em dia é possível fazer percursos deliciosos em modernas carruagens dotadas de todo o conforto que fazem o encanto dos muitos turistas estrangeiros que por lá vagabundeiam. Além de servirem as populações locais.

E nós? A proposta d'«Os Verdes», se for nesse sentido, é muito válida. Mas, depois de tantos disparates progressistas e revolucionários, com a nossa CP pelas ruas da amargura entregue à cupidez generalizada dos seus administradores, quadros e funcionários, será que estamos em posição de lhe dar seguimento? Mesmo depois de passar a crise?

Seria conveniente fazer essa pergunta ao PCP e à Intersindical...

Pensem nisso. Até amanhã!



P.S. Em complemento desta crónica sugere-se a leitura de quatro anteriores: 

5 comentários:

Anónimo disse...

Mas então em que ficamos? Deve ou não requalificar-se as ditas linhas? A opinião expendida no artigo é o que se pode chamar "Uma no cravo e outra na ferradura".
Eu também gostava muito de ter um Aston Martin, um iate, uma casa nas Maldivas e umas quantas outras minudências.Era bestial que Portugal tivesse uma rede de TGV com centenas de Kms, que de minha casa ao emprego fosse uma autoestrada, que não houvesse pobres nem remediados, que a troika cá não estivesse,que ..., que ... e ainda mais que ...
Mas nem eu posso ter o que gostava nem o País está em condições económicas e financeiras para se fazer aquilo que todos gostávamos que houvesse. Era bonito e bom, mas é o que é e isso tem muita força, como secostuma dizer.
Certo no artigo é o papel nefasto e antipatriótico desse grupelho telecomandado pelo PCP, que apenas procura, com fins eleitoralistas, "encravar" o Governo e o seu, em muitos casos, discutível programa.
Certo está também o artigo, quando atribui uma boa parte do buraco da CP aos seus trabalhadores, que auferindo indecorosas regalias (só subsídios permanentes e temporários para os maquinistas são 17,incluindo um prémio monetário só pelo facto de irem trabalhar), mantêem intermináveis greves que prejudicam gravemente os portugueses (sobretudo os mais pobres). Ainda gostava de saber como conseguem viver com o não pagamento de tantos dias de greve (terão subsídio de greve?).
No nosso País, neste grave momento, há que fazer o que é essencial e não o acessório, procurando poupar dentro do possível os mais desfavorecidos, obrigando os mais ricos (particulares e empresas) a darem contributo significativo e os trabalhadores a serem mais eficientes, castigando os parasitas e malandros, os corruptos,os politiqueiros e os vendedores de falsas promessas.
PRFontes

Jorge Bastos Malheiro disse...

Caro «Anónimo» (é a primeira vez que tenho um comentário de identidade desconhecida) leu o texto com atenção? Nele não se diz «QUANDO». Pelo contrário, no final tecem-se dúvidas quanto à exequibilidade da proposta nos tempos mais chegados.
De qualquer modo, desejo-lhe sorte no Euromilhões para o seu Aston-Martin, iate, e tudo o que mais desejar... mas também não lhe digo «quando» (risos).
Mas obrigado pelo seu comentário, porque, no final, vem ao encontro daquilo que aqui tantas vezes temos defendido em crónicas anteriores. Confira.
Um abraço.

Henrique Cayolla disse...

A comparação com os espanhois, é esmagadora!

Anónimo disse...

Se reparar bem, o comentário do anónimo está assinada.
Quanto ao QUANDO, fica-se em dúvida no artigo e nesta época há que falar claro: o QUANDO não é certamente para os próximos tempos.
PRFontes

Jorge Bastos Malheiro disse...

Tem razão, amigo Fontes. Só reparei na assinatura já depois de ter respondido. As minhas desculpas.
De qualquer modo, quanto ao «quando», também eu gostava de saber e, como muito bem diz, não é para os próximos tempos.
Entretanto, se tiver curiosidade sobre o que os espanhois fizeram das linhas de via reduzida, procure na net artigos sobre a FEVE - Ferrocarriles Españoles de Via Estrecha. Penso que ficará abismado com a comparação. Eu tenciono em breve escrever uma crónica dedicada a este tema.
Um abraço do
Jorge Malheiro