terça-feira, 28 de agosto de 2012

IEFP: Falemos agora A SÉRIO

Foi duro o que se disse ontem?


... mas era preciso um abanão...!

Depois da crítica destrutiva, cínica e mordaz, é hora de tomar uma atitude positiva e construtiva.

Como foi caricaturado, desde há vários anos que se vem assistindo a uma progressiva degradação e descrédito da Formação Profissional, incluindo a co-financiada pelo Fundo Social Europeu.


Segundo o nosso ponto de vista, essa situação deve-se, entre outras possíveis, às causas seguintes:
  1. Postura dos empresários das PME, maioritárias no nosso tecido empresarial, que privilegiam a obtenção de resultados no curto prazo com prejuízo de uma evolução sustentada. Efectivamente, ainda não se aperceberam das vantagens de apostarem na Qualidade e na Competência – tanto própria como dos seus colaboradores – as quais só se conseguem através de uma Formação e Aperfeiçoamento constantes. Isto é particularmente importante face à globalização dos mercados que presentemente se verifica.

  1. Fraca qualidade da formação ministrada, devida sobretudo à desmotivação e/ou desinteresse dos formadores experientes (os honorários actualmente praticados/propostos não são entusiasmantes). Isto conduz ao aproveitamento das dificuldades de muitos formadores em início de carreira, que apenas se limitam a vender o seu tempo, não se preocupando com os resultados da sua acção sobre os formandos, tanto a curto como a médio ou longo prazo.

  1. Pouca motivação dos eventuais formandos, que não acreditam na utilidade da formação ou não sentem interesse das suas empresas na aquisição e valorização das novas competências adquiridas. Em muitos casos, são os próprios empregadores a desmotivá-los por “sentirem” a sua autoridade posta em causa por subordinados que “saibam” mais do que eles ou com receio de que, uma vez com essas competências, possam ser levados a mudar de empresa.
  2. Deficiente promoção e divulgação das acções de formação, feita normalmente por funcionários sem qualquer formação específica e que, no seu amadorismo, cometem os maiores atropelos. Como qualquer outro, a Formação Profissional é um produto que tem que ser “vendido”.
  3. Atitude passiva dos Centros de Formação e respectivos funcionários, que se limitam a esperar que apareçam candidaturas às acções de formação, em vez de procurarem activamente dinamizar as inscrições.
  4. Peso excessivo das máquinas burocráticas que absorvem recursos significativos que seriam melhor utilizados onde são mais necessários, isto é, na prossecução dos reais objectivos do Fundo Social Europeu.
  5. Perversão da qualificação de formadores: Não faz qualquer sentido que um formador com apenas formação inicial tenha prioridade sobre um formador já certificado mas cujo CAP tenha expirado. Uma data não define competência.

    A exigência de cursos de requalificação periódicos não é mais do que a justificação para se criarem cursos com avultadas remunerações pela obrigatoriedade dessa reciclagem absolutamente desnecessária. Esses cursos, muitas vezes, não trazem qualquer mais-valia a quem os frequenta. Quem beneficia é apenas a “elite” que os ministra já que introduz no sistema a obrigatoriedade de a eles se assistir periodicamente de modo a assegurar a perpetuidade dos seus rendimentos.

    Repare-se que em nunhuma outra profissão uma pessoa deixa de ser competente porque atingiu um «prazo de validade». Pode sim ascender a níveis superiores através de estudo ou de cursos de formação. Uma bizarra e insensata «originalidade» do IEFP. As pessoas não são propriamente iogurtes...
  6. Favoritismo na selecção de formadores por algumas entidades formadoras, que colocam as amizades acima da competência, confiando a responsabilidade de cursos a amigos sem percurso profissional nas matérias que vão leccionar e que degradam a qualidade da formação, o que devia ser a primeira preocupação dessas mesmas entidades formadoras.

    Umas inspecçõezinhas por pessoal isento e conhecedor vinham muito a calhar.
  7. Deficientes critérios na selecção dos formandos de Aprendizagem, a qual deveria privilegiar a motivação e a apetência pela função. No entanto, em alguns centros, por eventual falta de preparação e/ou inexperiência dos responsáveis, a selecção é feita como serviço social prestado a famílias carenciadas. Resultado: desperdício de verbas, lançamento de maus elementos no mercado de trabalho e degradação da imagem da Formação.
  8. Exclusão de formadores seniores. Ao contrário do que acontece em países com quem teríamos muito a aprender (França, Alemanha, Suíça e países nórdicos), onde é altamente valorizado o aproveitamento do saber das pessoas em fim de carreira, existem em Portugal directivas que proíbem a contratação de formadores na situação de reforma. Se raciocinarmos um pouco, chegamos à conclusão de que existem três combinações possíveis do binómio competência/disponibilidade:
    a) Alta disponibilidade/baixa competência: Pessoas recém-licenciadas à procura de emprego que procuram desesperadamente uma fonte de rendimento mas que ainda não têm competência profissional para transmitir;

    b) Baixa disponibilidade/alta competência: Elementos profissionalmente activos, sabedores dos segredos da arte mas que, maioritariamente, sem tempo disponível para preparar convenientemente as acções de formação e cujo tempo livre para leccionar também é diminuto;

    c) Alta disponibilidade/alta competência: Profissionais que terminaram as suas carreiras, com todo o conhecimento teórico e prático adquirido ao longo da vida e que têm tempo disponível para preparar acções de qualidade e transmitirem as suas competências às gerações mais novas. O facto de ser posto de lado todo o alfobre de experiência representado por estas pessoas precisa de ser considerado como um desperdício de conhecimentos valiosos que poderiam (e deveriam) ser positivamente utilizados no desenvolvimento do país.

    Numa época em que há uma situação de aumento significativo da esperança de vida acompanhada de acentuada quebra da taxa de natalidade (o que coloca em causa a sustentabilidade da Segurança Social) a utilização do saber acumulado das pessoas com mais de 65 anos, poderia constituir como que uma reforma voluntária a tempo parcial em que os beneficiários poderiam dar um contributo sentindo-se úteis, contribuindo com os seus descontos sobre esse trabalho tanto para os cofres do Estado como para os da Segurança Social.
  9. Não remuneração pela qualidade dos textos de apoio e audiovisuais: Qualquer que seja a qualidade, sofisticação ou impacto dos meios de formação e/ou textos de apoio fornecidos ou utilizados pelos formadores, tal não é minimamente recompensado, desincentivando quem procura apresentar um trabalho de qualidade em favor de quem não faz o menor esforço nesse sentido. Saliente-se que em muitos casos nem sequer existem textos de apoio, ou então eles são apenas fotocópias de transparências, livros ou revistas reunidos a esmo, sem qualquer critério.
  10. Falta de incentivo à qualidade da formação: Qualquer que seja a avaliação dos formadores feita pelos formandos, não existe qualquer recompensa ao mérito demonstrado. Deveria existir, sim, uma remuneração adicional ligada à pontuação obtida no final das acções.
  11. Falta de protecção ao trabalho dos formadores, que se preocupam em apresentar textos de apoio e audiovisuais de qualidade não vendo o seu trabalho protegido, antes pelo contrário, vêem-no a ser utilizado por colegas sem escrúpulos que, sem qualquer pudor e com a complacência (ou negligência) das entidades formadoras, copiam os seus manuais e os apresentam como sendo de sua autoria.
  12. Inexistência de fiscalização, já que, salvo honrosas excepções, ninguém se preocupa em fiscalizar a qualidade da formação ministrada, em todas as suas vertentes. Com demasiada frequência surgem situações inconcebíveis, nomeadamente em formação intra-empresa. Quem se dispõe a ir a uma formação em que tem de atravessar poças de lama, enregelar por falta de aquecimento, ou sufocar com temperaturas acima dos 40ºC, por exemplo? Mas, isso, os coordenadores, não se preocupam em fiscalizar.
  13. Obrigatoriedade de duração mínima de 30 horas: As empresas (salvo nos casos de certas formações técnicas mais exigentes ou quando necessitam de ocupar pessoal momentaneamente excedentário) não podem dispensar os seus activos por períodos de tempo prolongados. Também, para os próprios activos que desejem aperfeiçoar os seus conhecimentos por iniciativa própria em horário pós-laboral, o vínculo a uma acção que se vai prolongar por 2 ou 3 meses pode ser inibidor e desmotivante. Parece-nos muito mais interessante módulos de 12 a 15 horas, dedicados a temas específicos, do que um amontoado de temas arrastando-se indefinidamente no tempo.
  14. Exigência em alguns centros de um curso superior para formações acima do nível 2: Licenciatura, Bacharelato, Mestrado ou Doutoramento não são garantia de competência profissional ou qualidade pedagógica. Ao longo da vida profissional, todos temos aprendido muito com pessoas com o chamado «saber de experiência feito» que foram grandes formadores sem que tenham polido os bancos de qualquer faculdade. (Thomas Edison ou Bill Gates, por exemplo, não concluíram qualquer curso superior).
  15. Retenção de honorários por parte de entidades formadoras privadas para pagamento a formadores a quem são muitas vezes exigidos recibos antecipadamente e que ficam indefinidamente à espera dos seu honorários (por vezes não recebidos por prescrição).

    Para quando uma fiscalização adequada pelos órgãos de tutela?
Face a este conjunto de situações, parece fazer falta a criação de uma organização profissional que, por exemplo e provisoriamente se poderia denominar

Sociedade Portuguesa de Formação Profissional (SPFP)

com o objectivo de, em colaboração com os organismos responsáveis, restaurar a dignidade e o prestígio da Formação Profissional, bem como defender os direitos dos formadores idóneos e incentivar a uma cultura de excelência que conduza a serviços de qualidade que sejam merecedores de remunerações justas e dignas.

Imaginam-se bem as pressões e os riscos que correriam os formadores que venham a ter a «leviandade» ou a «temeridade» de se associar abertamente a uma cruzada deste tipo que, afinal, é no interesse de todos quantos desejem uma Formação Profissional honesta e ao serviço do País.

Quem sabe ainda se consegue que alguém nos dê ouvidos? Afinal voltará a haver eleições não tarda nada e, se tal movimento tiver consistência, talvez se possa fazer corrigir alguma coisa.

Pensem nisso. Até amanhã!

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