segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Bem hajam Senhores Ministros!


Já se dignaram deitar uma vista de olhos pelos regulamentos em vigor e pelos procedimentos do IEFP?

Da humilde insignificância das minhas curtas vistas, rendo-vos a mais rasgada homenagem à luz da inteligência dos vossos antecessores que tanto tem feito em prol do sucesso da Formação Profissional em Portugal.

Não encontro palavras para descrever a sublime política de permitir ao IEFP a fulgurante medida económica de reduzir os honorários dos formadores, permitindo a realização de muitas mais horas de formação com os mesmos custos. Verdade que o povo ingrato não frequenta essas acções, que só deveriam contribuir para o seu desenvolvimento intelectual, já que, no que diz respeito às competências profissionais, eles preferem desenvolvê-las penosamente no posto de trabalho devido à excessiva competência dos formadores contratados a 15€/hora.

É para mim especialmente difícil encontrar superlativos que consigam dar suficiente realce à generosa e altruísta medida de permitir a professores contratados do ensino básico e secundário, complementarem os seus magros salários com aulas nos Centros de Formação, mesmo que à custa (certamente mais do que justificada) do aumento do seu absentismo às horas de presença nos estabelecimentos a que estão adstritos.
Claro que esta medida se justifica plenamente, dado que os muitos docentes aposentados já não têm competência para dar ao País os frutos das suas longas carreiras dedicadas ao rigor e aos grandes valores morais que hoje estão manifestamente obsoletos e ultrapassados na progressista, dinâmica e sofisticada sociedade dos nossos dias.

Tão razoável e inteligente este conceito me parece ser que, ao que me foi dito por fonte insuspeita, o IEFP terá emitido um despacho dirigido aos seus centros de formação no sentido de não serem contratados formadores na situação de reformados, por muito competente e rigoroso que tivesse sido o seu percurso profissional e reconhecidas as suas competências técnicas e pedagógicas.

Iguais encómios merece a soberba ideia da regulamentação da carreira de formador com obrigatoriedade de renovação do Certificado de Aptidão Pedagógica (vulgo CAP), coagindo os formadores experientes e rotinados (não confundir com «rotineiros») a frequentarem cursos que não trazem qualquer valor acrescentado, a não ser à «elite» dos profissionais de formação de formadores que, coitados, têm que justificar e reforçar os seus honorários que, curiosamente, são pagos acima dos 35€/hora.


Na minha ignorância e estupidez naturais, parecer-me-ia muito mais lógico e motivador que esses cursos existissem para uma sensata progressão na carreira que habilitasse os formadores a ministrar formação progressivamente mais exigente desde os níveis de Formação de I até ao V da União Europeia, com remunerações sucessivamente ajustadas ao nível intelectual dos formando aos quais se dirigem. Isso sim, seria motivador para o progresso na carreira, pelo aumento da qualidade intrínseca da formação. Mas quem sou eu para opinar em oposição às mentes brilhantes que nos governam?

Outra solução digna de um Peter Drucker ou Michael Porter é a obrigatoriedade das empresas darem anualmente 30 horas de formação aos seus trabalhadores. Simplesmente genial. Há que gastar os milhões da União Europeia e se as empresas e os seus empregados não o fazem a bem, fazem-no a mal, que para isso é que existe o Governo. Mesmo que seja formação que não serve para coisa nenhuma e na qual os formandos nem sequer põem os pés. Mesmo que resulte no prejuízo de horas de trabalho para as organizações. Mesmo que isso não contribua para algo mais útil do que o avolumar do ego de quem vive à custa da Formação.

Mas as horas foram registadas, as estatísticas aumentam, dão-se uns trocos a uns formadorzitos recém-formados que aceitam qualquer esmola que se lhes dê, que não têm experiência de coisa alguma mas que tiraram o CAP na esperança de arranjar qualquer trabalhito e alguém dirá alegremente que Portugal se aproxima do «pelotão da frente» da União Europeia em horas de formação. Os outros países vão continuando a passar-nos à frente. Mas algo se deve estar a passar em nosso benefício. Deve haver algo que eu não estou a ver. Eu só posso estar errado.

A verdade é que eu devo ser mesmo intelectualmente muito limitado, porque não posso admitir que não exista uma explicação lógica e inatacável que justifique estas situações.

E que dizer da generosa partilha que o IEFP consente do trabalho dos formadores que queimaram as pestanas a fazer pesquisa, que dedicaram longas horas a coligir e preparar manuais de qualidade os quais, miraculosamente, aparecem por todo o lado em cursos dados pelos mais diversos «profissionais»?

Claro que nem toda a gente tem a vontade, o talento e a dedicação de fazer um trabalho asseado. Mas como todo o mundo tem obrigação de apresentar obra bem feita, há que não questionar a origem dos manuais que se apresentam (afinal o pessoal do IEFP tem muito que fazer e não pode preocupar-se em controlar a honestidade das pessoas, não é verdade?). Dá muito trabalho ver se os manuais ou o material apresentado já apareceram noutros casos.

Para quê ralar-me? Se os formadores deixarem de apresentar coisas originais, paciência. Quem vier atrás que feche a porta.

Na busca destes esclarecimentos, ouso perguntar mais uma vez:

QUEM ME ACODE?

Pensem nisto. Até amanhã!


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